quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Mensagem de S.A.R Dom Duarte, Duque de Bragança

Mensagem de S.A.R Dom Duarte, Duque de Bragança





Na perspectiva histórica de um País com perto de 900 anos, o penoso
> caminhar numa crise comparável à vivida nos tempos da I República
> cujo centenário este ano faustosamente se comemorou, permite-nos
> retirar diversas conclusões.
>
> Comecemos pela circunstância de a República, fundada pela força que
> derrubou um Regime Democrático, nunca, até aos nossos dias, haver
> sido legitimada pelo voto popular.
>
> Significativo é, também, o facto de o regime republicano, nas suas
> várias expressões, não ter tido capacidade para resolver nenhum dos
> problemas de que acusava a Monarquia e o facto de que as Democracias
> mais desenvolvidas e estáveis da Europa serem Monarquias.
>
> As nossas três Repúblicas do séc. XX nasceram de três golpes
> militares após os quais os governantes se lançaram a reorganizar a
> sociedade, com os resultados que agora estão à vista.
>
> Como herdeiro dos reis de Portugal, eu represento um outro princípio,
> o princípio da liberdade e não o da coerção. Chegou a hora de a
> sociedade livremente dizer que Estado quer. Em vários reinos do Norte
> da Europa ouvi destacados políticos afirmarem que "vivemos em
> República, mas o nosso Rei é o melhor defensor da nossa República".
>
> Deixo aqui uma mensagem aos monárquicos, aos convictos que, hoje, são
> a minoria mas, segundo as sondagens, serão a maioria no futuro que se
> aproxima.
>
> Quero lembrar que essas sondagens chegam a referir 20%, 30% ou 40% de
> monárquicos, conforme as perguntas são feitas, percentagens tanto mais
> valiosas quanto resultam da escolha de pessoas livres e não de
> propagandas de partidos ou de movimentos sem transparência.
>
> Quero agradecer-vos a generosidade, o entusiasmo, e a dedicação
> quando içam nas ruas a bandeira das Quinas com a Coroa e quero
> dizer-vos que continuarei a acompanhá-los, como sucedeu no 5 de
> Outubro em Guimarães, o dia da independência nacional.
>
> A situação humilhante em que a Nação se encontra perante nós próprios
> e a comunidade internacional obriga-nos a reflectir sobre novos
> modelos de desenvolvimento económico e de vida em sociedade,
> inspirados no bem comum.
>
> Com efeito, a expectativa inicial do projecto europeu que a
> generalidade dos membros abraçou e que se assumiu, na sua origem,
> como um projecto de cooperação entre Estados - com os mais ricos a
> ajudarem os mais pobres – corre o risco de passar, rapidamente,
> de miragem a tragédia, com os mais fortes a ditarem regras e a impor
> sanções aos mais vulneráveis.
>
> Neste contexto de incerteza e preocupação, são, por isso, cada vez
> mais as vozes autorizadas que preconizam a necessidade da reforma do
> modelo de desenvolvimento económico global. A reactivação estratégica
> de uma agricultura sustentável e ecologicamente equilibrada é
> fundamental para enfrentarmos com segurança os desafios actuais, como
> há pouco tempo lembrou o Papa Bento XVI .
>
> Precisamos de um novo modelo para conseguir maior felicidade e
> bem-estar com menor desperdício de recursos, que deverão ser melhor e
> mais justamente partilhados, para que a ninguém falte o essencial.
>
> Havendo tantas necessidades de apoio às populações seria desejável
> dinamizar as antigas tradições de voluntariado, recorrendo também aos
> serviços dos beneficiários de subsídios do Estado, como condição para
> receberem esses subsídios. Receber subsídios sem dar a sua
> contribuição para a sociedade equivale a receber esmolas, o que não é
> bom .
>
> Portugal não pode cair no desânimo a que nos conduzem os constantes e
> confusos acontecimentos políticos nacionais amplamente noticiados.
>
> É fundamental acreditar no Futuro e partilhar Esperança, nunca nos
> esquecendo de onde viemos e para onde queremos ir.
>
> Para isso há que cultivar os exemplos de competência, seriedade e
> coragem na defesa de ideais, combatendo a falta de autenticidade que,
> infelizmente, constitui uma das mais comuns e perversas
> características do nosso tempo.
>
> Quem está na Política deve ter como primeiro e último objectivo
> SERVIR a Pátria e, em particular, permitir a valorização dos mais
> desfavorecidos.
>
> E para esta valorização ser possível, teremos de repensar todo o
> nosso sistema educativo, do pré-primário ao superior, adaptando os
> cursos às necessidades profissionais actuais e futuras e criando -
> com suporte da rede de ensino privado e cooperativo - condições às
> famílias com menos recursos para poderem escolher os estabelecimentos
> que gostariam que os seus filhos frequentassem, sem que tal venha a
> implicar aumento de encargos para o Estado.
>
> Tenho visitado muitas escolas onde me explicam que os programas são
> desajustados às realidades actuais e às saídas profissionais, e
> particularmente aos jovens com problemas de adaptação. O “
> Cheque Ensinoâ€� seria uma solução para estes problemas,
> permitindo às famílias escolher a oferta escolar mais adaptada às
> necessidades dos seus filhos, evitando a discriminação económica
> actual e promovendo a qualidade do ensino através de uma saudável
> concorrência…
>
> Só desta forma conseguiremos melhorar efectivamente o nível médio
> cultural, académico e profissional da população com vista ao
> progressivo desenvolvimento e engrandecimento do País e não com fim
> exclusivamente estatístico.
>
> Na sua longa História, Portugal foi grande quando se lhe depararam
> desafios que envolveram projectos galvanizadores de verdadeira
> dimensão nacional. Nessas alturas, os portugueses sempre souberam
> responder com criatividade, entusiasmo e coragem.
>
> Hoje, é no Mar e na Lusofonia que a nossa atenção deve ser focada
> como áreas de eleição para realizar um projecto de futuro para o País
> e para a Comunidade dos Países de Língua Oficial Portuguesa. Afinal,
> são estas duas vertentes que, desde o início da Expansão Marítima
> Portuguesa, com períodos de maior ou menor brilho, maior ou menor
> envolvimento, têm vindo a constituir o nosso Desígnio.
>
> O prestigiado Jean Ziegler, meu professor em Genebra, ensinava que
> existem dois caminhos para desenvolver os povos. O primeiro começava
> pela educação profissional, académica e ética da população , que iria
> desenvolver o país e conduzi-lo ao enriquecimento. O segundo caminho
> consistia em injectar dinheiro estrangeiro na economia. Os
> governantes criariam grandes infra-estruturas, enriquecendo-se alguns
> deles no processo, e a população compraria bens de consumo importados,
> enriquecendo o comércio. Mas no fim, essa nação estaria endividada e a
> classe média empobrecida porque as capacidades de produção teriam
> diminuído.
>
> Infelizmente é esta a nossa realidade recente.
>
> Deixo para os especialistas apontarem os factores da crise que nos
> fustiga, fazerem os diagnósticos acertados, apontarem as vias de
> solução. Mas não posso deixar de dizer que é urgente arrepiarmos o
> caminho que nos trouxe à gravíssima crise económica e financeira que
> atravessamos, como venho denunciando desde há anos.
>
> Foi justamente neste sentido que, este ano, pela segunda vez,
> promovi, no âmbito da Comissão D. Carlos 100 Anos, a organização do
> Congresso “Mares da Lusofonia�que permitiu uma
> participada reflexão, com representantes de todos os Países da CPLP
> presentes, acerca da valia dos mares e das Plataformas Continentais
> dos países lusófonos nas vertentes estratégica, de segurança,
> jurídica, ambiental, científica, tecnológica e económica.
>
> A intensificação do intercâmbio de conhecimentos da sociedade civil e
> o fortalecimento das relações afectivas entre os nossos países
> contribuirá decisivamente para a supressão das barreiras que ainda
> existem.
>
> Recentemente visitei o Brasil, pátria de minha Mãe, onde, em
> Brasília, tive a feliz oportunidade de contactar alguns membros do
> seu Governo.
>
> Transmiti os meus sinceros votos de sucesso à recém-eleita Presidente
> Dilma Russef .
>
> Percebi que lá existe uma grande abertura à ideia de uma futura
> Confederação de Estados Lusófonos, que muito beneficiaria todos os
> seus membros e cuja adesão não comprometeria as alianças regionais
> existentes. O facto do Reino Unido pertencer à Commonwealth não
> prejudica a sua participação na União Europeia mas valoriza-a .
>
> Ainda sobre a importância da afectividade que naturalmente se cultiva
> na Comunidade Lusófona, virá a propósito salientar a decisão do
> Governo de Timor – país a que me ligam relações de profunda
> amizade – quando, à semanas, declarou o seu auxílio a Portugal
> na compra de parte da nossa dívida pública, num gesto de fraternal
> amizade. Do mesmo modo, tenho indicações de que muito nos
> beneficiaria negociar com o Brasil um empréstimo para resolver a
> crise da dívida pública soberana em melhores condições do que com o
> FMI ou a Europa.
>
> Para concluir, gostaria de transmitir a todos os portugueses uma
> mensagem de ânimo:
>
> Não vos deixeis abater pela situação de dificuldade económica e crise
> moral que actualmente nos invade.
>
> Lembrai-vos que tivemos momentos bem mais graves na nossa História em
> que a perenidade da Instituição Real foi suporte decisivo para a
> recuperação conseguida.
>
> A dinastia, baseada na família, oferece o referencial de continuidade
> de que Portugal está carente há cem anos.
>
> Viva Portugal!

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